Falar sobre o pecado é algo mais que essencial, é vital. Pois se não tivermos o conhecimento da nossa “doença”, não teremos como reconhecer a grandeza e tamanha eficácia de um “remédio”. Quanto mais falarmos do pecado mais evidente ele ficará em nossas vidas, pois assim teremos uma percepção maior do tamanho e da proporção que ele ocupa em TODAS AS ÁREAS de nossas vidas.
A bíblia é clara em dizer que desde a queda do homem no Éden, seu coração se tornou completamente inclinado em querer o mal, conforme lemos em Gênesis 6:5:
“O Senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal.”
Percebemos claramente o grau de “maldade” do coração do homem nos nossos dias, observe sua perversidade e sua total incapacidade de buscar o bem. Sempre afirmei que não é preciso olhar para fora para enxergar a maldade, basta simplesmente olhar no espelho e nos examinarmos por dentro…
Nossa natureza é por si só “inimiga de Deus”, e nunca poderemos, nem sequer tentaremos, buscar fazer algum bem (lembrando que fazer o bem é buscar e honrar a Deus), como bem disse Davi:
“O Senhor olha dos céus para os filhos dos homens, para ver se há alguém que tenha entendimento, alguém que busque a Deus. Todos se desviaram igualmente se corromperam; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer.” Salmos 14:2,3
Nas escrituras temos diversas passagens que deixam claro a real situação do homem pós-queda, é muito certo que estamos mortos espiritualmente e mais óbvios ainda que não tenhamos como fazer nada sobre isso, um texto claro é Efésios 2, onde o Apóstolo Paulo é categórico em dizer que estamos MORTOS EM DELITOS E PECADOS. Essa é nossa única e total certeza, pois é claro que nossa depravação, devido à queda, corrompe todas as nossas atitudes e decisões, embora vivamos em uma época onde a justiça é totalmente relativa ao ponto da verdade, pois nossa “visão de justiça” é muito longe da visão soberana de Deus, podemos em nossa cultura aceitar atos e palavras onde isso “é relativo”, mas que essas mesmas palavras e atos são abomináveis aos olhos justos de Deus.
Indo para um lado mais profundo na palavra depravação, temos alguns outros significados, como: perverso, libidinoso, devasso, libertino, cruel, malvado, podre, degenerado ou até mesmo incapaz de ter uma conduta moral e ética apresentável, essa é nossa situação bíblica e real.
Vamos ver como o Apóstolo Paulo nos mostra essa situação ao escrever a carta aos Cristãos de Roma por volta do ano 55 D.C., embora a carta fora escrita aos irmãos romanos, sabemos que as suas aplicações e efeitos podem ser para toda a humanidade e a qualquer tempo, a saber a volta gloriosa do nosso Cristo Salvador.
Vamos tentar falar de um trecho da carta do Apóstolo Paulo aos Romanos, onde ele nos mostra como a mente humana é tomada totalmente pelo pecado e com isso veremos os efeitos ativos nas nossas vidas, pois embora a carta fosse escrita para os cristãos de Roma, muitas das suas aplicações servem para toda a humanidade em todo tempo.
“Portanto, a ira de Deus é revelada do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça, pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e os seus corações insensatos se obscurecem. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis.” Romanos 1: 18-23
Vemos claramente que a ira de Deus caiu contra o povo por causa da desobediência e incredulidade, pois Deus se revelou em centenas de milhares de criações e tudo revelava o seu poder, sua glória e suas benfeitorias. Mas a incredulidade e impureza nos corações dos homens os fizeram desprezar tudo e amar seus próprios ídolos e coisas criados por eles mesmos. Perverteram a verdade de Deus e transformaram pensamentos rasos e fúteis. Nada disso foi novidade para um coração que sempre foi inclinado ao mal e por toda uma vida fora inimigos de Deus, cf. Tiago 4:4. Percebemos claramente no texto que a causa da ira de Deus sobre a humanidade fora o pecado da idolatria, quebrando claramente o mandamento da sua Lei Mosaica e o total desprezo pela sua verdade única e toda sua glória.
Aí vem uma pergunta para nós refletirmos: “Há algo diferente disso nos dias de hoje?”
Continuamos a leitura do texto, Romanos 1:24-26 que diz assim:
“Por isso Deus os entregou à impureza sexual, segundo os desejos pecaminosos dos seus corações, para a degradação dos seus corpos entre si. Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém. Por causa disso Deus os entregou a paixões vergonhosas. Até suas mulheres trocaram suas relações sexuais naturais por outras, contrárias à natureza.”
Como consequência de todo pecado que vimos nos versículos anteriores, Deus entregou os homens ao seu próprio controle perverso, ou seja, o juízo de Deus para o homem é que ele seria “livre” para fazer o que quisesse de seu “mundo”, e teria seus atos, pensamentos, desejos e circunstâncias moldados pelo seu próprio coração. O homem caiu “de braçadas” em seus mais perversos e depravados desejos, em sua total falta de amor ao próprio e muito menos a si mesmo. Perversão sexual, hábitos contrários à natureza criada por Deus, uma completa imundícia ética, social, moral e muita mais ainda espiritual.
Pense nisso um pouco,observe a sociedade e verá que vivemos de tal maneira onde tudo é “relativo”, onde qualquer forma de “amor” é válida, onde as pessoas preocupam somente com o “seu eu”, uma sociedade que vive diminuindo os padrões morais e civis ao “gosto” da “humanidade” pelo simples fato de ser politicamente correto e moderno e mais uma vez vem à pergunta:
“Há algo diferente disso nos dias de hoje?”.
Finalizando a leitura, nos versículos de 27-32, vemos:
“Da mesma forma, os homens também abandonaram as relações naturais com as mulheres e se inflamaram de paixão uns pelos outros. Começaram a cometer atos indecentes, homens com homens, e receberam em si mesmos o castigo merecido pela sua perversão. Além do mais, visto que desprezou o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem o que não deviam. Tornaram-se cheios de toda sorte de injustiça, maldade, ganância e depravação. Estão cheios de inveja, homicídio, rivalidades, engano e malícia. São bisbilhoteiros, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, arrogantes e presunçosos; inventam maneiras de praticar o mal; desobedecem a seus pais; são insensatos, desleais, sem amor pela família, implacáveis. Embora conheçam o justo decreto de Deus, de que as pessoas que praticam tais coisas merecem a morte, não somente continuam a praticá-las, mas também aprovam aqueles que as praticam.”
Uma sociedade entregue aos seus desejos e a todos os atos mais obscuros do seu coração, não poderia ter sido diferente como Paulo relatou. Viveram todos da maneira mais pecaminosa possível, de acordo com os desejos nos qual Deus, em forma mais cruel de juízo, os permitiu.
Quero chamar a atenção aqui para o versículo 28, no qual: “… ele os entregou a uma disposição mental reprovável, …”
Deus os entregou aos seus próprios desejos e atos, a uma mente perversa e deplorável. Esse é estado de uma mente que não nasceu de novo, um coração onde o pecado habita e vive em uma sensação de paz e felicidade, claramente falsa. Podemos ver ao longo dos versículos que todos os sentimentos e condições mentais atribuídas a eles (a nós) são totalmente deprimentes, sentimentos que não nascem de um coração do cristão que nasceu de novo, sentimentos ou frutos que contradizem diretamente os que Paulo relatou em Gálatas 5:22-23:
“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei.”
No continuar da leitura a partir do versículo 29 vemos uma lista de aproximadamente vinte e um “sentimentos” negativos, dos quais nenhum deles Deus se agrada. Ao longo das escrituras vemos ensinamentos de Deus para que todo cristão lute contra tais coisas: inveja, malícia, ganância, insensatez, injustiça e outros, pois isso nunca deveriam habitar no coração do homem eleito, regenerado e arrependido. A luta contra esses tipos de “sentimentos” devem ser diárias na vida do cristão e com a total certeza de que esses mesmos sentimentos quebram quase todos os mandamentos da Lei de Deus (Êxodo 20). Ora, se essas mesmas práticas são totalmente contra a Lei de Deus, todo cristão verdadeiro isso não poderia nem mesmo “habitar” em seus pensamentos quanto mais ser coniventes com outros que as praticam, como fica claro no versículo 32. Além de praticar esse mal enorme dentro de si e deixar essas coisas dominarem suas vidas de forma que desagradam a Deus, eles ainda são “tolerantes” em aprovar a todos que vivem da mesma maneira. No Salmos 1:1 vemos que o homem é feliz pois não se junta e nem imita a prática dos pecadores, como pode um cristão deixar se levar com tais práticas e sentimentos? Há alguma forma de ser conivente com isso e ainda “ser cristão”? Existem algo de comum entre as trevas e a luz? A resposta mais clara é um sonoro, NÃO! Viver em conformidade com o pecado, seja ele qual for ele é completamente contra a lei de Deus e não tem sentido nenhum na prática cristã. Na epístola do Apóstolo João vemos claramente que:
“Aquele que diz: “Eu o conheço”, mas não obedece aos seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele. Mas, se alguém obedece à sua palavra, nele verdadeiramente o amor de Deus está aperfeiçoado. Desta forma sabemos que estamos nele: aquele que afirma que permanece nele, deve andar como ele andou.” 1 João 2:4-6
A fé bíblica reformada vive as doutrinas da graça ao longo da sistematização de João Calvino que se enquadra perfeitamente dentro dos ensinos do Evangelho de Cristo, onde sua linha teológica foi “nomeada” como Calvinismo. Calvino, de acordo com as escrituras, sistematizou em cincos pontos principais, onde uma delas é a Doutrina da Depravação Total, um exemplo vivo da “pequena ponta do iceberg” que lemos. A doutrina da depravação total é eficaz em dizer que o homem, pós-queda no Éden, perdeu toda sua capacidade espiritual de buscar a Deusme todas as suas faculdades mentais ficaram comprometidas decorrentes do pecado. Estando assim morto, em suas ações e pensamentos o homem é incapaz de buscar a Deus e se tornando assim seu inimigo, pois claramente odeia tudo que vem do Pai Celestial e todas as suas benfeitorias. Sendo assim é necessário um mover da parte de Deus para que esse homem venha à vida, ou seja, o homem só pode vir a Deus se o mesmo o chamar, o trouxer a uma viva esperança de vida com um chamado regenerador o levando ao mais profundo arrependimento dos pecados e o fazendo nascer de novo sem obra alguma do homem e muito menos mérito próprio.
O Apóstolo Paulo retratou isso divinamente quando escreveu a Tito, vejamos:
“Houve tempo em que nós também éramos insensatos e desobedientes, vivíamos enganados e escravizados por toda espécie de paixões e prazeres. Vivíamos na maldade e na inveja, sendo detestáveis e odiando-nos uns aos outros. Mas quando se manifestaram a bondade e o amor pelos homens da parte de Deus, nosso Salvador, não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua misericórdia, ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós generosamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador. Ele o fez a fim de que, justificados por sua graça, nos tornemos seus herdeiros, tendo a esperança da vida eterna”. Tito 3:3-7
Claramente vivemos em um mundo tomado pelo maligno (1 João 5:19), mas pela maravilhosa graça de Deus não somos consumidos, e louvamos e glorificamos a Deus pelo tal, pois não somos merecedores de tamanha dádiva, pelo contrário, somos dignos de queimar no inferno – somos a causa viva da morte do filho de Deus.
Devemos sempre orar pela salvação desses que ainda não receberam um chamado regenerador de Deus, pois sabemos que terrível coisa é cair nas mãos de uma Deus vivo (Hebreus 10:31), e vemos pelas escrituras que a fé é pelo ouvir a Palavra de Deus, conforme Romanos 10:17…
“Ele punirá os que não conhecem a Deus e os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus.
Eles sofrerão a pena de destruição eterna, a separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder.” 2 Tessalonicenses 1:8,9
Denilson Freitas
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