“Deus sujeitou-me o coração à docilidade através duma conversão repentina”.
“Ninguém pode receber sequer a mínima parcela de reta e sã doutrina se não passar a ser um discípulo das Escrituras e não as interpretar guiado pelo Espírito Santo.”
Jean Calvin (nome em francês).
1509: Nasce em Noyon, na Picardia, (próximo a Paris), no dia 10 de julho. Seu pai, Gérard Cauvin, era secretário do bispado de Noyon. A transposição do nome “Cauvin” para o Latim (Calvinus) deu a origem ao nome “Calvin” pelo qual ele é conhecido. Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha 8 anos de idade. Para muitos, Calvino terá sido para a língua francesa aquilo que Lutero foi para a língua alemã.
1515: Jeanne sua mãe falece, quando tinha apenas 6 anos de idade.
1521: Aos 12 anos, devido à influência que seu pai tinha, passou a receber alguns cargos eclesiásticos na região.
1523: Ingressa na Universidade de Paris.
1528: Forma-se em Filosofia e Dialética na Universidade de Paris. Aos 19 anos recebe o grau de mestre em Teologia
1528: Na Universidade de Orleans, França, começa a estudar Direito. 1529: Muda-se para a Universidade de Bourges, França, onde inicia também os seus estudos de Grego. Seu pai mudou de planos em relação ao seu futuro e quer que ele siga Direito. A “ciência das leis torna normalmente ricos aqueles que se debatem com ela”, referia o seu pai (ele próprio um advogado do bispado), segundo as próprias palavras de Calvino. Cumpriu a vontade do pai e foi estudar
Direito, mas nunca deixou de preferir a teologia. Como disse mais tarde: “Se Deus me deu forças para que eu cumprisse a vontade de meu pai, determinou ele pela providência oculta que eu tomasse finalmente um outro caminho” (o da Teologia). Inicialmente Calvino preparava-se para ser padre, enveredaria pelo estudo do Direito, mas Deus trouxe-o de novo ao caminho da Teologia.
1531: Forma-se em Direito pela Universidade de Bourges. Perde seu pai, que falece neste ano. Regressa a Paris onde estuda grego e hebraico no Colégio da França.
1532: A publicação de seu Comentário ao Tratado de Sêneca sobre a Clemência, em abril, já era um indício de que sua conversão estava iminente. Neste mesmo ano converte-se à doutrina protestante. 1533: Começa a defender os protestantes contra a Inquisição. Em 1° de novembro, Nicolas Cop profere seu discurso de posse como reitor da Universidade de Paris. Cop recebe ajuda de Calvino para escrever o discurso, que continha idéias de Erasmo e Lutero. Não eram também chamados de heréticos os primeiros seguidores do cristianismo? O resultado foi a perseguição do próprio Nicolas Cop, que teve de se refugiar em Basiléia. Esconde-se junto com Cop em Angoulême, França, fugindo do rei Francisco I, opositor de todos os simpatizantes de Lutero. Entretanto, o papa Clemente VII pressionava o rei de França a reprimir os protestantes franceses. Em bulas de 30 de Agosto e de 10 de Novembro do mesmo ano, o papa exortava à “aniquilação da heresia Luterana e de outras seitas que ganham influência neste reino”. Os dois encontram-se, então, nesse mesmo ano, em Marselha, onde discutem entre outras coisas a “guerra contra os turcos, lá fora, e a repressão das heresias cá dentro”.
1534: Em 4 de maio chaga à Noyon afim de renunciar aos benefícios eclesiásticos que detinha. Ao chegar na cidade é preso. Escreve o seu segundo livro, que será também o primeiro sobre religião, e é relativamente pouco conhecido, em comparação com suas outras obras. Faz uma crítica severa aos anabatistas, que acusa de serem uma seita debandada. O livro coloca questões teológicas, mais do que oferece respostas. O título completo era: “Psychopannychia” – tratado pelo qual se prova que as almas permanecem vigilantes e vivas uma vez que tenham deixado os corpos, o que contraria o erro de alguns ignorantes que sustentam que elas dormem até ao último momento” – o que é, também, um ataque aos anabatistas. Apesar de escrito em 1534, o livro seria apenas publicado em 1542. Em 18 de Outubro de 1534, a história do protestantismo francês vive um dos seus momentos fundamentais. Cartazes de 37 por 25 cm que criticam a celebração da missa tal como ela é feita oficialmente pela Igreja católica são afixados em vários locais. É particularmente atacada a repetição cerimonial da morte de Cristo, simbólica, no altar.
Se o sacrifício já foi consumado, por que se apoderam os sacerdotes católicos deste ritual simbólico? Os argumentos teológicos dos protestantes fundamentam-se na Epístola de São Paulo aos Hebreus. A situação tornou-se particularmente crítica e descambou numa reação brutal por parte da Igreja católica e do estado francês.
1535: Protestantes franceses seriam encarcerados e assassinados. Em Janeiro , o rei Francisco I organiza uma procissão macabra pelas ruas de Paris. A procissão pára em 6 locais distintos. Em cada uma das paragens há um pódio onde o rei, os embaixadores e dignos membros do “parlement” se instalam para assistir à morte pela fogueira de 6 “heréticos” envolvidos no caso dos cartazes do ano anterior. Calvino foge para Basiléia, cidade onde vive até Março de 1536. È publicada a primeira bíblia escrita por um protestante, em francês. Tratava-se de uma tradução direta do Hebraico (o antigo testamento) e do Grego (o novo testamento) – línguas originais das escrituras – e não das versões então em uso, em latim. O autor é Olivétan, aliás Pierre Robert (1506-1538), primo de Calvino. o seu estilo de escrita foi considerado de difícil compreensão, além de uma certa falta de fluidez discursiva. O texto seria revisto (com a colaboração de Calvino) e publicado novamente em 1546.Em 16 de Julho, o rei Francisco I faz publicar o Édito de Coucy, uma medida de contemporização para com os protestantes e que corresponde também a uma nova guerra de Francisco I contra Carlos V (Guerra de 1535-1538). Necessitando do apoio dos protestantes alemães para o esforço de guerra e não convinha, necessariamente, perseguir os “Luteranos” em França. É prometido que se deixarão os protestantes em paz desde que vivam como “bons cristão” e renunciem à sua fé. Mas, em Dezembro de 1538, o Édito de Coucy é suspenso e as perseguições aos protestantes retomam a intensidade anterior.
1536: Novamente é preso por pregar doutrinas do protestantismo. Teve breve passagem pela corte de Ferrara, Itália, onde tenta converter sua compatriota, a Duquesa Renata. Em Março é publicada em Basiléia a primeira edição de “Institutio religionis Christianae”. No prefácio menciona a sua estadia em Basiléia, “enquanto na França são queimados na fogueira crentes e pessoas santas”. Fala de santos mártires. Dirige-se no livro ao Rei Francisco I, que procura convencer das boas intenções da reforma. Ao mesmo tempo, a sua teologia começa a adquirir contornos mais marcados e mais autônomos em relação ao Luteranismo. Uma tendência que se fortalecerá no futuro. Critica a vida dos mosteiros, que compara a bordéis. Calvino pretende não só a reforma da Igreja mas de todos os indivíduos. Fugindo da Inquisição Católica, se estabelece em Genebra. A cidade já estava aberta para acolher a nova fé, Em 1533 há o primeiro culto protestante de que há conhecimento nesta cidade. São então cunhadas moedas com a inscrição: “Post tenebras lux” (após a escuridão, a luz).
1537: Em Abril, por sugestão de Calvino, é constituído um “syndic” (síndico) que tem por objetivo ir de casa em casa e inquirir sobre a confissão dos moradores. A ação é contestada. Alguns moradores recusam-se a pronunciar-se sobre a sua fé.Em junho, as autoridades de Genebra decidem que o Domingo é o único dia feriado. Futuramente nenhum outro feriado será considerado.Em 30 de Outubro é definido como o prazo para todos os moradores de Genebra se pronunciarem quanto à sua religião. Aqueles que não reconhecem os decretos de Guillaume Farell são obrigados a deixar a cidade em 12 de Novembro.Após esta data, a situação complica-se para Farell e Calvino. Particularmente provocante é o fato de um estrangeiro (francês), como Calvino, decidir sobre a excomunhão e expulsão de habitantes naturais de Genebra. As autoridades, perante estes protestos, passam a ser mais críticas para com os líderes protestantes.1538: Junto com Farel, é expulso de Genebra acusado injustamente de arianismo.
Se estabelece em Strassburgo, na França (divisa com a Alemanha). em Estrasburgo Martin Bucer será o protetor de Calvino. Durante três anos Calvino dirigiu em Estrasburgo uma igreja de protestantes franceses, a convite de Bucer. Segundo o biógrafo Courvoisier, Estrasburgo é a cidade onde Calvino se torna verdadeiramente Calvino.
1539: No outono deste ano, Calvino escreve também um comentário à carta de Paulo aos Romanos. Este tema é particularmente querido do protestantismo, porque ali se encontra a justificação através da fé como a base de sustentação do movimento protestante, pois somente a fé salva e justifica. Os sacramentos só recebem o seu sentido através da fé. Sem fé não têm qualquer efeito. Já Lutero tinha destacado a carta de Paulo aos romanos como o cerne do Novo Testamento e o mais alto do evangelho.
1540: Em Estrasburgo, Calvino casa-se em Agosto, com a viúva Idelette de Bure, que tinha sido previamente adepta do anabatismo. Traz duas crianças do seu prévio casamento. Calvino tem 31 anos de idade. A cerimônia do casamento foi dirigida por Guillaume Farel.
1541: O partido de seus amigos assume o poder em Genebra. A 13 de Setembro, Calvino chega pela segunda vez a Genebra. Instala-se aí definitivamente até ao fim da sua vida, tendo ali organizado a estruturação da organização de ministérios, de professores, de diáconos, de acordo com as linhas bíblicas. Estabelece uma nova Constituição, as chamadas Ordenanças Eclesiásticas, onde redefinia a ordem de poder na Igreja Suíça As “Ordonnances de 1541” dispõem a formação de 4 corpos:
Pasteurs: pastores, que pregam.
Docteurs: ensinam.
Anciens: os mais velhos, chamam à ordem aqueles que prevaricam.
Diacres: diáconos, ocupam-se dos pobres e doentes – mendigar é estritamente proibido.
1542: Publica em Genebra o seu livro de catecismo: “Catéchisme de l’Église de Genève, c’est-a-dire, le formulaire d’instruire les enfants en la chrétienté”. A chave do projeto de Calvino passa pela pedagogia. Objetivo é uma profunda transformação da mentalidade. Cada resquício de superstição, de práticas de magia, qualquer resto de catolicismo é perseguido como idolatria. o filho de Calvino, Jacques, morre pouco depois de nascer em 28 de Julho.
1546: Em Janeiro, é preso Pierre Ameaux, que tinha injuriado publicamente Calvino, esse “picard” que prega uma falsa fé.
1547: A 23 de Setembro, François Favre comparece perante tribunal por ter afirmado que Calvino se auto-nomeou de bispo de Genebra e os franceses tinham escravizado a sua cidade natal.
1548: Um senhor chamado Nicole Bromet declara que os franceses deveriam ser todos colocados num barco e enviados pelo rio Reno abaixo.
1549: Morre Idellete Calvino, após doença. Calvino não voltará a casar. Dedica-se ainda mais decididamente ao trabalho.
1550: Calvino escreve ao rei Eduardo VI de Inglaterra, um protestante, encorajando-o nas suas reformas. O rei Eduardo VI fez acolher protestantes franceses, perseguidos no país natal. Após o reinado de Eduardo VI (1547-1553) o catolicismo regressa à Inglaterra sob a liderança de Maria Tudor.
1551: Sofre oposição de Bolsec, que afirma: “a teoria da predestinação é falsa”. Ele é expulso de Genebra, volta para a Igreja Romana e escreve uma biografia caluniosa de Calvino
1553: Ordena a morte de seu opositor, o espanhol Miguel Servet, que morre queimado.
1555: Em Janeiro, há uma procissão noturna de pessoas em Genebra, caminhando de vela na mão, ridicularizando Calvino. Todos os calvinistas são excomungados do catolicismo Também a doutrina da Predestinação foi muito atacada nestes anos. Um particular crítico foi o monge carmelita chamado Hiérome Bolsec, nascido em Paris, que se tinha estabelecido em Genebra. Ele argumenta que “uma vez que Deus é o responsável por tudo o que se passa, então Deus é também responsável pelos nossos pecados”. Calvino responde que “nunca disse isso”.( A teoria da predestinação de Calvino nasceu da sua crença na presciência absoluta de Deus, e da firma convicção, robustecida pelas suas leituras de São Paulo e Santo Agostinho, de que o homem é incapaz de se salvar pelas suas próprias ações; somente pode ser salvo pela imerecida graça de Deus, livremente concedida). As autoridades apoiam Calvino. Em Berna, críticos de Calvino são expulsos da cidade. são erguidas as primeiras igrejas calvinistas em França, nomeadamente em Paris, Meaux, Angers, Poitiers e Loudun. Nos três anos seguintes surgem as comunidades de Orléans, Rouen, La Rochelle, Toulouse, Rennes e Lyon.
1559: Funda a Universidade de Genebra. Entre 26 e 29 de Maio, realiza-se em Paris um sínodo nacional protestante. Cerca de 30 paróquias estão representadas. Vão elaborar um texto de linhas de orientação, (com a participação de Calvino na sua criação), que se vai chamar Confession de La Rochelle (foi confirmado nesta cidade em 1571).
1564: Morre no dia 27 de maio, aos 55 anos. A saúde de Calvino começou a vacilar. Ele sofria de enxaquecas, hemorragia pulmonar, gota e de pedras nos rins. Por vezes foi levado carregado para o púlpito. Calvino também tinha os seus detratores. Foi ameaçado e abusaram dele. Calvino apreciava passar os seus tempos livres no lago de Genebra, lendo as escrituras e bebendo vinho tinto. Nos finais de sua vida disse a seus amigos que estavam preocupados com o seu regime diário de trabalho: “Qual quê ? Querem que o senhor me encontre ocioso quando ele chegar ?”
João Calvino faleceu em Genebra a 27 de Maio de 1564.
Foi enterrado numa sepultura simples e não marcada, a seu próprio pedido. A influência que ele exerceu desde a cidade de Genebra, que praticamente governou a partir de 1541 até à sua morte, em 1564, espalhou-se pela Europa inteira e mais tarde pela América.