William Tyndale foi um padre protestante e acadêmico inglês, mestre em Artes na Universidade de Oxford. Traduziu a Bíblia para uma versão inicial do moderno inglês. Seu objetivo era fazer o Novo Testamento um livro tal que “todo menino de arado” pudesse lê-lo e se tornasse mais conhecedor das Escrituras que o próprio clero. Apesar de numerosas traduções para inglês, parciais ou completas, terem sido feitas a partir do século VII, a Bíblia de Tyndale foi a primeira a beneficiar da imprensa, o que permitiu uma ampla distribuição.
Tyndale estudou as escrituras e começou a defender as teses da Reforma Protestante, muitas das quais eram consideradas heréticas, primeiro pela Igreja Católica que o perseguira e depois pela Igreja Anglicana. As traduções de Tyndale foram banidas pelas autoridades e o próprio Tyndale foi queimado na fogueira em 1536 em Vilvoorde (10Km a nordeste de Bruxelas), na atual Bélgica, sob a instigação de agentes de Henrique VIII e a Igreja Anglicana. Suas últimas palavras foram, “Senhor, abre os olhos ao rei da Inglaterra”, o que de fato aconteceu anos depois.
Para escapar da perseguição movida pelas autoridades, Tyndale fugiu para a Europa continental, a fim de continuar a obra. Mas, finalmente foi apanhado. Condenado por heresia, foi estrangulado e queimado na estaca, em outubro de 1536. Sua oração final foi: “Senhor, abre os olhos do rei da Inglaterra.” Pouco sabia ele quão cedo a situação mudaria. Em agosto de 1537, menos de um ano depois da morte de Tyndale, o Rei Henrique VIII autorizou a Bíblia geralmente conhecida como a Bíblia de Mateus. Decretou que ela fosse livremente vendida e lida no seu domínio.
O que é a Bíblia de Mateus? O professor F. F. Bruce explica: “O exame dela mostra que é substancialmente o Pentateuco de Tyndale, a versão de Tyndale, dos livros históricos do Velho Testamento, até 2 Crônicas. . . a versão de Coverdale, dos outros livros do Velho Testamento e dos Apócrifos, e o Novo Testamento de Tyndale, de 1535.” Neste respeito, o escritor prossegue, “foi um significativo ato de justiça. . . que a primeira Bíblia em inglês a ser publicada sob licença régia fosse a Bíblia de Tyndale (até onde chegara a tradução de Tyndale), embora não fosse ainda aconselhável associá-la publicamente com o nome de Tyndale”.
Poucos anos depois, o círculo se fechou. Em 1541, quando se publicou uma edição da tradução conhecida como a Grande Bíblia — uma revisão da Bíblia de Mateus — e se ordenou que fosse colocada em todas as igrejas da Inglaterra, o frontispício incluía a seguinte declaração: “Supervisionada e examinada às ordens da alteza real, pelos reverendíssimos padres em Deus, Cuthbert, bispo de Duresme, e Nicholas, bispo de Rochester.” Sim, este ‘Bispo de Durham’ não era outro senão Cuthbert Tunstall, anteriormente Bispo de Londres. Aquele que tão amargamente se opusera à obra de Tyndale dava agora sua aprovação à divulgação da Grande Bíblia, uma obra que essencialmente ainda era a de Tyndale.